sábado, 25 de setembro de 2010

O que diz o Presidente

… Cavaco Silva fez um discurso colocando a tónica no papel do mundo rural na sociedade afirmando que “um interior despovoado e envelhecido significa um país mais pobre”. Por este motivo, o presidente da República considera que os municípios do interior devem encontrar estratégias de combate à desertificação.

“As autarquias precisam de criar condições para que os jovens não abandonem a sua terra. Os seus responsáveis têm sobre os ombros a tarefa de reforçar a capacidade produtiva de cada concelho, em termos económicos, culturais e paisagísticos.”

Fonte: “O Mirante on-line” sobre a visita de Cavaco Silva ao Sardoal em 22/09/2010


Frequentemente os sucessivos governos centrais são acusados de esquecerem o interior do país e, desta forma, contribuírem decisivamente para a sua desertificação.

É um facto que, aqueles que ao longo das últimas décadas nos têm governado a partir do “Terreiro do Paço”, têm tido responsabilidades, uns mais do que outros, no estado a que o “país profundo” chegou.

Mas a responsabilidade por esta situação está longe de se esgotar nos governos centrais. Aos nossos governantes autárquicos em geral também deverá ser assacada uma boa quota-parte dessa responsabilidade.

Durante cerca de 2 décadas pediu-se aos autarcas deste país que assegurassem às respectivas populações as condições básicas para o seu bem-estar (abastecimento de água, vias de comunicação, requalificação de áreas, infra-estruturas básicas de apoio, etc). E pode dizer-se que, enquanto durou esta “fase do betão”, a sua resposta pode considerar-se positiva.

Os problemas do interior têm vindo avolumarem-se nos últimos 10 ou 15 anos quando, asseguradas essas condições básicas de bem-estar das populações, se começou a exigir aos autarcas estratégias de desenvolvimento local, que dessem resposta aos desafios colocados por um mundo cada vez mais exigente e competitivo.

E tem sido nesta última fase que a situação do interior do país tem vindo a agudizar-se, embora não de forma homogénea. Com efeito, constata-se que, enquanto há concelhos que parecem caminhar para um “buraco negro” sem retorno, outros há que têm vindo a resistir, alguns até de forma bem positiva, aos desafios dos nossos dias.

No primeiro destes grupos estão os concelhos cujos autarcas falharam nas estratégias de desenvolvimento local ou, pior do que isso, nunca as tiveram; que possuem uma visão paroquial da governação assente, fundamentalmente, numa política de gestão corrente do dia-a-dia, com pouca ambição, sem rasgo, de compromisso, do pequeno favor, de algum compadrio; cujo principal objectivo é tentarem assegurar votos que lhes permitam manterem-se no poder.

Por sua vez, no segundo grupo, estão concelhos cujos autarcas são inconformados; que se queixam com razão do governo central mas que, perante as adversidades que ele lhes colocam, não desistem e procuram ultrapassá-las; que tiveram a visão de perceber como é importante inovar e desenvolver; que têm uma estratégia para a sua terra e, mais do que isso, capacidade para a ajustar quando percebem que ela está a falhar; que têm humildade suficiente para perceberem que não são donos absolutos da razão e para admitirem os seus erros.

Por isso, esteve bem o Presidente da República quando no Sardoal alertou para a necessidade dos autarcas não esperarem apenas pelas soluções que o governo central lhes possam trazer e, pelo contrário, encontrarem eles próprios estratégias para combaterem a desertificação do seu território e reforçarem a sua capacidade produtiva.

É que, se para alguns autarcas, este discurso já não lhes traz nada de novo, para outros espera-se e deseja-se que lhes sirva de um bom ensinamento.

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