quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

A oportunidade perdida

Em Julho de 2002 publiquei no jornal VMT um artigo, que passo a reproduzir, sobre a chegada do IP6 (depois A23) a Mação.

Nele manifestava algumas preocupações quanto ao impacto que ele poderia ter no desenvolvimento do Concelho.

Na altura Saldanha Rocha afirmava, e passo a citar, “um dos objectivos do meu mandato passa por alargar a base económica do concelho. O IP6 vai contribuir muito para esse objectivo. Têm existido muitos contactos do exterior, procurando saber o que temos para oferecer”.

Ao contrário do que pensava Saldanha Rocha, o IP6 por si só não iria arrastar o desenvolvimento para Mação. Era preciso, em complemento, muito trabalho da nossa parte.

A realidade veio confirmar que havia razão para essas minhas preocupações porque o almejado desenvolvimento acabou por não chegar.

Durante cerca de 10 anos não soubemos aproveitar as oportunidades que o IP6 (A23) nos ofereceu. Agora, com a auto-estrada portajada, o Concelho fica menos atractivo e mais difícil se torna a tarefa de o desenvolver.

Precisamos agora de uma dose redobrada de visão estratégica, capacidade de trabalho e imaginação, para ainda tentar “dar a volta à situação”.

Serão aqueles que, durante uma década, desperdiçaram uma oportunidade de “ouro” para o Concelho, capazes de recuperar o tempo perdido? Que cada um faça a sua avaliação.

Nuno Neto


Observatório de Mação (VMT) – Julho de 2002

IP6: A estrada do nosso contentamento

1. Satisfação

Fazendo fé nas últimas notícias vindas a público, estará para breve a abertura do novo troço do IP6. Até poderá acontecer que, quando este jornal chegar às mãos dos leitores, já alguns de nós tenham tido a satisfação de percorrer o novo troço de auto-estrada, pelo menos entre as Mouriscas e Mação.

Após uma desesperante espera que, por vezes, quase nos levou perder a esperança, estamos finalmente mais próximos do “mundo”: Abrantes, Santarém, Lisboa, etc, ficaram mais perto 10 minutos, enquanto Castelo Branco uns bons minutos mais. E isto tomando como ponto de partida Mação porque, se considerarmos os Envendos, o ganho de tempo é ainda mais significativo.

Não obstante as nuvens negras que já pairam sobre esta nossa conquista, com o actual Governo PSD / PP a pretender introduzir portagens (a última versão aponta para daqui a 2 anos, aquando do Euro 2004, talvez aproveitando o nosso alheamento momentâneo com as peripécias da bola), é tempo, pois, de nos regozijarmos e aproveitarmos. Como diz o velho ditado, “enquanto o pau vai e vem, folgam as costas”.

Como é óbvio, também eu comungo desse sentimento geral de satisfação por ter o “auto-estrada à porta de casa”; contudo, quando saio da esfera do interesse meramente pessoal e procuro antever o impacto que o IP6 poderá ter no desenvolvimento de Mação, confesso que a conclusão deste me causa alguma preocupação, pelas razões que passo a explicar de seguida.


2. Preocupação

Muitos foram aqueles que ao longo dos últimos anos “venderam” a ideia de ser o IP6 a tábua de salvação do concelho de Mação: vai aproximar-nos dos centros mais desenvolvidos, esbater assimetrias existentes entre o litoral e interior, trazer até nós mais empresas e mais turistas. Em suma, arrastará consigo e por si só o desenvolvimento.

Ainda recentemente, aquando da apresentação da sua candidatura à CMM, o actual presidente subscrevia esta ideia, quando afirmava nas páginas deste jornal que “um dos objectivos do meu mandato passa por alargar a base económica do concelho. O IP6 vai contribuir muito para esse objectivo. Têm existido muitos contactos do exterior, procurando saber o que temos para oferecer”.

Mas será que o IP6 vai ter um impacto assim tão positivo no desenvolvimento de Mação? Na minha perspectiva isso poderá efectivamente vir a acontecer, embora não seja tão linear como parece à primeira vista; inclusive, poderá até acontecer que, contrariamente às expectativas de muitos, esse impacto venha a ser negativo.

O factor que poderá gerar este efeito perverso é, tão somente, a falta de poder de atracção que Mação revela actualmente, que poderá levar a que as pessoas, aproveitando a facilidade e rapidez de deslocação, se sintam mais tentadas a procurar locais com um nível de atracção mais elevado. A este propósito, recupero aqui uma pequena passagem do meu primeiro artigo publicado neste jornal, em Fevereiro de 2000:

“O IP6, ao quebrar as barreiras de isolamento que ainda cercam Mação, encurtando as distâncias para os centros mais desenvolvidos, irá contribuir para o desenvolvimento. Mas atenção! A realidade diz-nos que esse encurtamento de distâncias tem um risco que não deve ser desprezado à partida: a aproximação faz-se nos dois sentidos, se é mais fácil chegar a Mação, também será mais fácil sair dele.”

Peguemos no caso concreto de Abrantes, que é a “ameaça” mais próxima. Há pouco tempo atrás, a viagem demorava quase 1 hora e era maçadora devido ao mau estado da estrada e às constantes curvas; para muitos, ir lá quase só acontecia em situações de grande necessidade (p.e. ir ao médico).

Com o IP6 a situação alterou-se significativamente: o tempo que antes se gastava numa viagem, dá hoje para ir, comprar o jornal, beber um café e regressar calmamente. Em face desta realidade, quantos maçaenses não passarão a deslocar-se mais frequentemente a Abrantes, seja para ir trabalhar, fazer compras ou simplesmente passear? Com toda a certeza muitos mais do que dantes. E quando essas pessoas se deslocam a Abrantes para beber um simples café ou adquirir um cabaz de compras, em detrimento do fazerem em Mação, estão a “transferir riqueza” para lá.

Como é óbvio, esta situação trará efeitos negativos para a actividade económica de Mação porque, infelizmente para nós, o fluxo inverso não irá aumentar do mesmo modo.

Embora a auto-estrada também permita às pessoas de Abrantes chegar a Mação em 20 minutos, não serão muitas aquelas que descortinam razões suficientemente fortes para o fazer.

É este, pois, o grande perigo que, pelo menos a curto prazo, o IP6 comporta: a incapacidade de Mação, e de outros concelhos semelhantes, para resistir à forte atracção que já se faz sentir a partir dos centros mais desenvolvidos e que, com toda a certeza, se vai acentuar por via desta maior aproximação.


3. Solução

Em face deste quadro cinzento, será que vale então a pena Mação ter o IP6? A resposta, sem margem para dúvida, é sim porque, não obstante os riscos descritos, a auto-estrada transporta consigo efectivas oportunidades de desenvolvimento para o Concelho. E se houver capacidade e habilidade para as aproveitar, os riscos apontados serão substancialmente reduzidos.

Contudo, para ser possível esse aproveitamento, é fundamental que os responsáveis pelo Concelho reúnam 2 condições:

1º) Perfeita consciência de que o IP6 por si só não vai contribuir para o desenvolvimento do Concelho. O IP6 é apenas “uma cana de pesca com a qual se pode pescar bom peixe”; contudo, não havendo vontade de pescar ou não o sabendo fazer, dificilmente Mação se irá banquetear com uma “posta” do desenvolvimento. Exige-se, por isso, uma atitude “pró-activa”, na busca de soluções que se reconhece não serem fáceis.

2º) Visão estratégica, capacidade de trabalho e imaginação, para que o Concelho possa ser mais inovador, mais dinâmico e disponha de factores de diferenciação. Só deste modo, e com a consequente melhoria da sua capacidade de atracção, será possível a Mação competir e ter sucesso num “mercado das regiões” cada vez mais concorrencial.

Com a chegada do IP6 a Mação, deixa de ser possível aos responsáveis pelo Concelho manter o discurso até agora sempre feito, de que a razão para muitos dos nossos problemas estava no isolamento. Se assim era, então estão finalmente criadas as condições de base para que, a partir deste momento, Mação possa “dar o salto” que todos ambicionam.

Se falharem nesta missão já não poderá haver desculpas: “agora já existe guitarra; se ela não tocar é porque não existem unhas para a fazer tocar”.

Na sua já longa história, esta é, talvez, a grande conquista até agora alcançada pelo Concelho. Saibamos nós agora aproveitá-la em proveito próprio.

2 comentários:

Carlos Carias disse...

O autor deste post sabe também como eu ou ainda melhor, que não depende só da vontade do executivo camarário a vinda de empresas para o concelho, já aumentou a zona industrial das lamas o preço m2 é á muitos anos bastante atrativo, mas apesar de tudo e numa altura de grande recessão, não é fácil, mais apoios camarários!!!??? depois não seriam criticados!!!!

Intel disse...

A ganância de alguns fez com que este concelho perdesse muitas, e quando digo muitas, são mesmo muitas oportunidades com a fixação de empresas vindo de fora... mas enfim, é o que temos, e o resultado está á vista, uma zona industrial que não passa de uma zona de "despejo" industrial sem a preocupação da funcionalidade e respetiva organização da mesma.