domingo, 2 de setembro de 2012

É preciso ter muita lata…

A Unidade Técnica de Apoio Orçamental calcula que, no final do 1º semestre do corrente ano, o défice orçamental se tenha situado entre os 6,7% e os 7,1%, valor que se encontra completamente desalinhado com 4,5% previstos para o final do ano.

Passos Coelho e o seu governo já tinham falhado as suas previsões para o desemprego e para a quebra na economia. No 1º caso apontaram para 13,4% e ele já está nos 15,5%; no 2º caso estimou -2,8% e, tudo indica, a queda será de 3% ou mais.

Tal como afirmou hoje o Secretário-Geral do PS, José Seguro, Passos Coelho e o seu governo “não acertam uma”.

Passos Coelho não poderia falhar o controlo do défice orçamental porque a sua redução foi um dos grandes argumentos que utilizou para a necessidade de colocar o país a “ferro e fogo”. E o actual desvio orçamental é bem mais colossal do que aquele que diz ter encontrado. É caso para dizer que a criatura virou-se contra o criador…

De alguém que foi tão lesto a deitar abaixo um governo legitimamente eleito, e que tanto prometeu antes das eleições, esperava-se outro comportamento e, sobretudo, que conseguisse alcançar resultados mais favoráveis para o país e para os portugueses.

Mas, decorrido um ano em que impôs ao país e aos portugueses um plano de austeridade extremamente severo (tendo inclusive afirmado por diversas vezes que estava a ir para além do recomendado pela troika), o que Passos Coelho tem para oferecer aos portugueses é uma mão cheia de ilusões.

Passos Coelho afirma agora que houve progressos na redução da despesa pública, o problema é que as receitas caíram. Trata-se de uma desculpa esfarrapada e repleta de cinismo. Por 2 razões:

- Em relação à despesa, porque a redução não ocorreu por via das famosas “gorduras” do estado mas porque foi directamente aos bolsos dos portugueses, nomeadamente dos funcionários públicos. Quando se corta nos salários, nas pensões, na saúde, e na segurança social, da forma tão violenta como o fez, é fácil baixar a despesa. Aliás, se em vez de ter retirado este ano apenas os 2 subsídios aos funcionários públicos, Passos Coelho lhes tivesse retirado também os 12 ordenados mensais, certamente que o corte na despesa teria sido mais significativo;

- Em relação à receita, Passos Coelho “lava as mãos” como Pilatos, como se a quebra acentuada que ela sofreu não tivesse sido fruto da política económica e financeira que impôs ao país. A explicação para a quebra na receita está, nomeadamente, nos milhares de empresas que têm vindo a encerrar as portas (e naquelas que, ainda não as tendo encerrado, não conseguem gerar lucros) e na redução do consumo que a falta de dinheiro nos bolsos dos portugueses impôs.

É preciso ter muita lata para, depois de todos os falhanços colossais que o governo cometeu no ano que leva de governação, Passos Coelho insista em afirmar que é preciso manter o caminho que tem vindo a ser trilhado.

Perante este descalabro, talvez não fosse má ideia seguir a proposta apresentada pelo “consultor-ministro”, com uma pequena nuance: em vez de concessionar o serviço público de televisão, concessionar o governo.


Números que a muitos afligem e que outros designam simplesmente por ajustamento…

- 852 mil desempregados;
- 160 mil jovens desempregados;
- 108 mil jovens licenciados no desemprego;
- 460 mil desempregados sem subsidio de desemprego;
- Mais de 100 mil portugueses que emigraram por ano;
- 4 325 empresas falidas;
- 868 empresas de construção civil encerraram a sua atividade e o sector perde 90 postos de trabalho por hora;
- 6 228 famílias insolventes;
- 2 300 famílias que entregaram casas, nos três primeiros meses deste ano;
- Mais de 21 mil novos pedidos ao Rendimento Social de Inserção;
- Cerca de 11 mil jovens ficaram sem bolsa no ensino superior;
- Menos 476 mil consultas nos cuidados primários;
- Menos receitas e mais despesas na Segurança Social;
- Milhares de pequenas e médias empresas com dificuldade de financiamento.

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